terça-feira, 7 de agosto de 2012

Arco Íris

Há muito que me questiono sobre a incapacidade manifesta das pessoas em lidar com a tristeza e com o sofrimento, próprio e alheio. Julgo que passamos do 80 para o 8, ou seja, de um período em que as pessoas sofriam e conformavam-se com o seu sofrimento, vivendo dia-após-dia imersas numa melancolia vegetativa, anestesiadas de sensações e emoções, num quotidiano doentio e rotineiro... para o outro extremo, que vivemos actualmente, em que as pessoas não permitem/suportam qualquer tipo/manifestação de tristeza, sofrimento, e muitos outros sentimentos normais, com quais devemos aprender a lidar e que fazem parte da vida. 

Esta incapacidade em lidar com sentimentos "conotados negativamente", em vivê-los durante um determinado período, em lidar com eles e ultrapassá-los, algo naturalmente doloroso mas que nos faz crescer, torna-nos muito mais vulneráveis a eventos adversos ao longo da vida. Transforma-nos em seres frágeis, com baixa auto-estima, incapazes de vencer perante a adversidade e de aprender com ela, fracos e, até, mesquinhos e egocêntricos, pois toda a vida gira em torno destes sentimentos, criando-se ciclos viciosos difíceis de quebrar.

Para os outros (sejam familiares, amigos, colegas de trabalho), e muitas vezes para o próprio, o facto de se sentir mais desanimado, de preferir ficar em casa em detrimento de sair, de preferir ficar sozinho do que estar acompanhado ou se, porventura, lhe apetece  chorar, em vez de fingir que está "tudo bem"... é sinal de fraqueza, de "não estar bem", de, como estamos sempre a ouvir, "estar deprimido" (sim, a depressão, a "doença" do século!!!). O que as pessoas muitas vezes fazem, geralmente incentivado por outrem (sim, porque com os problemas alheios todos nós podemos bem, e somos todos uns excelentes conselheiros/psicólogos) é esquecer, fingindo que nada aconteceu, o dito "atira para trás das costas"... depois apercebem-se que têm assuntos mal resolvidos e que acabam por sofrer as suas consequências mais tarde, geralmente com juros acrescidos. Atrevo-me a dizer que, muitas vezes, as pessoas escondem o que realmente sentem, não porque tentam abstrair-se do sofrimento ou ultrapassá-lo ignorando-o (que tb não dá bom resultado), mas porque se apercebem que isso trás desconforto para as pessoas que as rodeiam, de quem gostam e temem perdê-las, temem que elas se fartem / se afastem (o que às vezes acaba mesmo por acontecer... mais uma vez reflectindo a dificuldade que as pessoas têm em lidar com o sofrimento alheio).

Como li recentemente, e concordo em absoluto, é necessário acarinhar os sentimentos negativos, ou seja, é necessário, dar-mo-nos um bocado de colo (sim a nós próprios!!!), como os nossos pais faziam quando eramos crianças, tendo sido assim que nos ensinaram a lidar com a frustração, decepção, fracasso, desilusão, ultrapassar medos, etc. Claro está, que é mais complicado transferir "este colinho" para a vida adulta, mas o mais importante é respeitarmos o nosso "eu", dar-lhe espaço, dar-lhe a possibilidade de sofrer a perda, de cicatrizar as feridas, de cozer os buracos na alma deixados por uma batalha perdida... porque a guerra, essa sim, ainda continua por vencer e há que continuar!! Este processo, que, pelo menos inicialmente, requer alguma racionalização, tem que ser assumido e aceite pelo próprio, caso contrário, se as pessoas sofrem mas não aceitam e não se permitem "sofrer" temporariamente, não conseguem "ficar bem", ficam presas a ressentimentos, e não conseguem, dito à bom português, "arregaçar as mangas e ir à luta"!

Por fim, convém não esquecer "Tem que chover, nem que seja um pouco, para que se possa apreciar um lindo arco íris!" 



5 comentários:

  1. Gostei muito do texto, com uma análise madura e cuidada do status quo... Realmente a vida, qual montanha russa, é feita de altos e baixos, sucessos e insucessos... Temos de aprender a lidar bem com cada uma das etapas e retirar ensinamentos que nos ajudam a enfrentar os desafios futuros :-) Ser feliz SEMPRE E TODOS OS DIAS é uma enorme utopia...

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    1. Nem mais... mas é muito importante ter essa percepção da realidade (que eu julgo que nem toda a gente terá!). :) Obrigada pela tua opinião meu querido! um beijinho

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  2. Adorei Babila... Podes continuar :)
    Infelizmente revejo-me nas tua palavras. No ter de esconder e fazer de conta que está tudo bem, mas quando a factura chega...

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    1. Sim, mas sabes uma coisa Ana, não podemos mudar o passado, mas podemos mudar o presente e o futuro, por isso vamos sempre a tempo de rescrever nos próximos capítulos da nossa vida! Força nisso! Obrigada por partilhares a tua opinião! um beijinho

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  3. "as pessoas não permitem/suportam qualquer tipo/manifestação de tristeza, sofrimento, e muitos outros sentimentos normais, com quais devemos aprender a lidar e que fazem parte da vida"
    Sinceramente penso que tocaste num ponto muito importante que faz parte do dia-a-dia de todos nós!
    Hoje apetece-me estar um pouco apatica, não tenho vontade de socializar, só quero ir fazendo as coisas com calma! E depois? resposta: depois, não podes.
    Não posso porquê? Porque sim, porque não é normal.
    Está bem entao, vou fingir que estou aos pulos de alegria só para poder ter o meu dia de apatia....

    Beijinho prima (deparo-me muitas vezes com este dilema)

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