domingo, 29 de julho de 2012

A nostalgia da caligrafia...

Enquanto refletia sobre alguns acontecimentos do meu passado, apercebi-me de uma coisa curiosa... primeiro que, tal como se ouve dizer, eu própria experienciei o facto de em alguns segundos acontecerem coisas que mudam por completo a nossa vida e depois constatei, com algum pesar, que os principais eventos precipitantes destas transformações me chegaram por via eletrónica, nomeadamente, por sms e email. Depois não pude deixar de me questionar se elas teriam acontecido na ausência destes novos meios de comunicação inter-pessoal, e se sim, como teria sido. Suponho que alguns não se teriam proporcionado, porque o facto das pessoas poderem dizer algo sem estar na presença de outrem, em apenas alguns segundos, como é o caso das sms, emails, mensagens instantâneas nas redes sociais, etc. coloca-os em vantagem em relação ao próprio contacto físico, por vezes impossível, e mesmo em relação a outros meios de comunicação, como as cartas, que ainda implicam todo um processamento desde a escrita até ao envio, que atrasa a transmissão da mensagem.... mas de que eu sou fã!

Eu ainda sou do tempo das cartas... com a caligrafia e cunho pessoais do remetente, às vezes com palavras indecifráveis, algumas inclusivamente perfumadas, com os selos carimbados dos correiros, carregadas de expectativas em relação ao seu conteúdo, numa ânsia, por vezes, inquietante. Sim, admito, tenho saudades desses tempos. Confesso que nestas coisas funciono um pouco à moda antiga: o acto de refletir, escrever e enviar uma carta ou um postal fazem parte de um processo fascinante, cujo resultado vai muito além da soma de cada um dos passos individualmente. A carta ultrapassa o seu conteúdo, e portanto, deixa de ser uma simples transmissão de informação para ser uma vivência. Ainda me recordo das cartas que trocava com amigos... desde a altura em que enviava uma carta, até obter uma resposta à mesma, era um correria diária para a caixa do correio à espera do envelope com o meu nome no destinatário. Ainda nos dias de hoje, adoro receber cartas/postais de amigos e familiares, e sempre que posso, ou sempre que considero que algo é suficientemente importante, faço questão de o escrever à mão, e enviar pelo correio. Para mim, é uma forma de, não tendo oportunidade para estar fisicamente com aquela pessoa, lhe mostrar que ela é especial e que a distância ou o dia-a-dia atarefado não diminuiu em nada a nossa amizade. Pelo menos, comigo funciona assim. 

Numa das últimas viagens que fiz a Londres, fui visitar o Portobello Market, e comprei um carimbo antigo com a letra "B", que gosto de utilizar nas minhas cartas, como cunho pessoal... :)

Tenho uma caixinha onde guardo cartas, postais e coisas que tal (em molhinhos, como está na imagem) e, por vezes, gosto de a abrir e de reler algumas delas, reavivar momentos felizes e pessoas fascinantes, gosto de me redescobrir através de lembranças antigas e, simultaneamente, de me aperceber do quanto mudei... gosto do cheiro do papel, gosto do ato de abrir um envelope, de sentir o toque do papel, de ver as manchas já amarelecidas do papel antigo. No fundo, tudo isto acaba por me transportar para uma era de romantismo e revivalismo que, se bem gerido, considero salutar... não se trata de viver o passado, mas de estar em paz com o passado vivido. E, quando assim é, faz bem à alma e aquece o coração. 

Infelizmente, nos dias que correm, as idas à caixa do correio perderam todo o seu encanto e transformaram-se mais numa fonte de stress e descontentamento, repletas de contas para pagar, multas, notificações para fretes, folhetos de publicidade e afins.

7 comentários:

  1. As idas à caixa de correio só são stressantes quando uma pessoa o permite. Não encares a coisa dessa forma. Admite-o como uma coisa natural, da qual retiras como extraordinários, os momentos em que recebes correspondência fora do normal (cartas que não se destinam a assuntos rotineiros mas sim a trocas de informação entre conhecidos).

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  2. Essa troca de informação a que te referes, no meu caso, já não existe. E, o que existe, são de facto, inúmeras contas para pagar. Claro que já faz parte do dia-a-dia e já não gera ansiedade, foi apenas uma forma de dizer que tinha perdido todo o encantamento.

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    1. Não existindo, estás sempre a tempo de a implementar. :P

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    2. Forneço a minha morada a quem me quiser mandar-me cartas!!! Pré-requisitos: conhecer-me e vice-versa!!! :P

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  3. Primeiro ponto:
    Perdes demasiado tempo a pensar no passado. Recordar não é viver. Recordar é perder tempo que podia estar a ser vivido. Se recordas, já viveste e não vale a pena perder grande tempo com isso.

    Segundo: A vantagem destes novos meios de contacto é que podes agora dar ainda mais valor quando alguém perde tempo a usar um método "antigo" para te dizer algo ou oferecer uma lembrança personalizada.

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    1. Será que com o segundo ponto estás a querer dizer que vais FINALMENTE enviar-me a prenda de final de curso que me prometeste??? (já lá vão 3 anos...)

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  4. Acho que as caixas de correio nas casas/apartamentos qualquer dia deixam de existir! Não vejo ninguém com saudades do telegrafo!
    As cartas são algo de que não sinto falta... agora é tudo muito mais fácil, prático e rápido. :p

    nota: Acho que a tua prenda de final de curso foi enviada pelo correio mas... perdeu-se. :p

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