sexta-feira, 13 de julho de 2012

O Silêncio


Para alguém que fala pelos cotovelos, que ganhava os títulos de “Miss blá blá blá” nos tempos da universidade, uma verdadeira "fala barato" - como é o meu caso -, falar sobre o silêncio pode parecer algo estranho e pouco apropriado, mas a verdade é que, por baixo desta "capa verborreica" existe um verdadeiro fascínio pelo silêncio.

O silêncio pode dizer muito mais do todas-as-palavras-e-mais-algumas-ditas-seja-de-que-forma-for-por-quem-quer-que-seja!! O silêncio pode ser devastador, constrangedor, angustiante, inquietante, de tristeza ou sofrimento profundos,... mas também pode transmitir paz, tranquilidade, cumplicidade e felicidade. Embora não consiga trazer à memória situações concretas de todas elas, julgo já ter experienciado cada uma destas “emoções silenciosas”, e possivelmente, aquelas que guardo na memória constituam, mesmo, os melhores e piores momentos da minha vida.




Li recentemente um post num blog em que o autor descrevia um casal de namorados, com cerca de 25 anos, que tinha observado à hora do almoço, dizendo que tinham passado toda a refeição (cerca de meia hora) sem proferir uma única palavra; cada um claramente perdido nos seus pensamentos, olhavam em redor, pela janela, para outras pessoas que passavam, enquanto iam comendo. O autor refletia sobre a felicidade do casal em questão, se estariam chateados naquele momento em particular ou se já tinham chegado à fase em que já sentiam que não tinham nada para dizer ou partilhar um com o outro, ou se simplesmente não queriam fazê-lo. Claramente, estávamos presente um silêncio desconfortável, que não aspira a nada de bom. Não ter vontade de dizer nada, de partilhar, nem que sejam as coisas banais do dia-a-dia (o que viu, o que fez, o que sentiu...) é quase sempre um sinal de desinteresse, de insatisfação, de saturação, de acomodação à situação atual (com a qual estão evidentemente insatisfeitos), refletindo uma profunda falta de vontade/confiança para lutar por mais do que o têm no momento (seja por medo do fracasso ou por crise de identidade – não sabem quem são, logo, não sabem o que querem). A minha experiência pessoal diz-me que para que qualquer tipo de relação funcione, seja ela que natureza for, tem que haver empenho e dedicação de ambas as partes e que as pessoas só o fazem quando recebem do outro lado um “feedback” positivo que os motiva e estimula a continuar a fazê-lo, até que o próprio ato de fazer algo por alguém que se sabe à partida que vai satisfazer a outra parte passa a ser o suficiente para continuar a investir naquela relação. Naturalmente, o empenho não tem que ser necessária e exatamente igual de ambas as partes... porque da mesma forma que o nosso lado esquerdo do corpo não é igual ao lado direito (sim, não somos simétricos, se fossemos seriamos muito estranhos), mas o todo é harmonioso (vá, uns mais do que outros :P)... as relações funcionam da mesma forma, quando se encontra um equilíbrio salutar, que satisfaz ambas as partes, sem cobranças e sem pressões.

Contudo, o silêncio pode surgir em contextos absolutamente opostos a este... pode ser um sinal de cumplicidade extrema em que não há necessidade de palavras, reconfortante e tranquilizador. Quando comecei a trabalhar, vivi um ano sozinha e a certa altura perguntaram-me qual era a sensação. Limitei-me a dizer que gostava muito de chegar a casa, cansada do trabalho e esticar-me calmamente no sofá, no silêncio, e deixar a minha mente vaguear por onde lhe apetecesse... e terminei dizendo “não há nada melhor” ao que a pessoa em causa me respondeu: “ melhor era fazeres tudo isso e ao teu lado estar alguém especial a fazer exactamente o mesmo, a respeitar o teu silêncio e a gozar o seu, tranquilamente”. Concordei em absoluto. Perdi isto quando voltei a viver em casa dos meus pais... enfim! Na realidade, julgo que gozar momentos de silêncio, estando acompanhado, e conseguir usufruir dos mesmos traduz uma grande cumplicidade, amizade, respeito... é preciso ter uma relação muito genuína e aberta, em que ambas as partes se respeitam e, sem qualquer pressão, deixam as coisas fluir naturalmente. Parece simples.... mas conseguir que tal aconteça sem desconforto e sem receios é incrivelmente difícil, mas quando se consegue... é maravilhoso. No entanto, acredito que haja personalidades que não se coadunam a este tipo de experiências e para quem o silêncio é sempre sinal de falta de algo, sinónimo de solidão, tristeza, embaraço... talvez porque não o saibam gerir da melhor forma e como tal, sempre que surge, tenham necessidade de o “abafar” com palavras ou comportamentos absolutamente desnecessários...

Termino com uma citação do filme Pulp Fiction que me parece apropriada... That's when you know you've found somebody special. When you can just shut the fuck up for a minute and comfortably enjoy the silence.” (Mia)

3 comentários:

  1. Por termos parecidos "exteriormente verborreicos" é que às vezes as pessoas não percebem o quão bem estamos com a pessoa querida no silêncio de um olhar. Um beijinho Babila e espero mais posts para breve. hoje estavas mt bonita :D

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  2. Obrigada querido! SIm, sempre que tiver algo para partilhar publicarei aqui.... acaba por ser uma forma de nos sentirmos mais próximos! bjinho gd

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  3. De tagarela para tagarela, o silêncio carinhoso é realmente muito bom=) Beijinho Babilinha

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