domingo, 29 de julho de 2012

A nostalgia da caligrafia...

Enquanto refletia sobre alguns acontecimentos do meu passado, apercebi-me de uma coisa curiosa... primeiro que, tal como se ouve dizer, eu própria experienciei o facto de em alguns segundos acontecerem coisas que mudam por completo a nossa vida e depois constatei, com algum pesar, que os principais eventos precipitantes destas transformações me chegaram por via eletrónica, nomeadamente, por sms e email. Depois não pude deixar de me questionar se elas teriam acontecido na ausência destes novos meios de comunicação inter-pessoal, e se sim, como teria sido. Suponho que alguns não se teriam proporcionado, porque o facto das pessoas poderem dizer algo sem estar na presença de outrem, em apenas alguns segundos, como é o caso das sms, emails, mensagens instantâneas nas redes sociais, etc. coloca-os em vantagem em relação ao próprio contacto físico, por vezes impossível, e mesmo em relação a outros meios de comunicação, como as cartas, que ainda implicam todo um processamento desde a escrita até ao envio, que atrasa a transmissão da mensagem.... mas de que eu sou fã!

Eu ainda sou do tempo das cartas... com a caligrafia e cunho pessoais do remetente, às vezes com palavras indecifráveis, algumas inclusivamente perfumadas, com os selos carimbados dos correiros, carregadas de expectativas em relação ao seu conteúdo, numa ânsia, por vezes, inquietante. Sim, admito, tenho saudades desses tempos. Confesso que nestas coisas funciono um pouco à moda antiga: o acto de refletir, escrever e enviar uma carta ou um postal fazem parte de um processo fascinante, cujo resultado vai muito além da soma de cada um dos passos individualmente. A carta ultrapassa o seu conteúdo, e portanto, deixa de ser uma simples transmissão de informação para ser uma vivência. Ainda me recordo das cartas que trocava com amigos... desde a altura em que enviava uma carta, até obter uma resposta à mesma, era um correria diária para a caixa do correio à espera do envelope com o meu nome no destinatário. Ainda nos dias de hoje, adoro receber cartas/postais de amigos e familiares, e sempre que posso, ou sempre que considero que algo é suficientemente importante, faço questão de o escrever à mão, e enviar pelo correio. Para mim, é uma forma de, não tendo oportunidade para estar fisicamente com aquela pessoa, lhe mostrar que ela é especial e que a distância ou o dia-a-dia atarefado não diminuiu em nada a nossa amizade. Pelo menos, comigo funciona assim. 

Numa das últimas viagens que fiz a Londres, fui visitar o Portobello Market, e comprei um carimbo antigo com a letra "B", que gosto de utilizar nas minhas cartas, como cunho pessoal... :)

Tenho uma caixinha onde guardo cartas, postais e coisas que tal (em molhinhos, como está na imagem) e, por vezes, gosto de a abrir e de reler algumas delas, reavivar momentos felizes e pessoas fascinantes, gosto de me redescobrir através de lembranças antigas e, simultaneamente, de me aperceber do quanto mudei... gosto do cheiro do papel, gosto do ato de abrir um envelope, de sentir o toque do papel, de ver as manchas já amarelecidas do papel antigo. No fundo, tudo isto acaba por me transportar para uma era de romantismo e revivalismo que, se bem gerido, considero salutar... não se trata de viver o passado, mas de estar em paz com o passado vivido. E, quando assim é, faz bem à alma e aquece o coração. 

Infelizmente, nos dias que correm, as idas à caixa do correio perderam todo o seu encanto e transformaram-se mais numa fonte de stress e descontentamento, repletas de contas para pagar, multas, notificações para fretes, folhetos de publicidade e afins.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Salve-se quem / o que puder!!!

Hoje, primeiro dia das minhas tão ansiadas férias, acordei um pouco mais tarde, fui ao ginásio e depois quando voltei, enquanto arrumava a cozinha do pequeno-almoço e preparava qualquer coisa para almoçar, liguei a TV e, como tem sido habitual nos últimos dias, ouvi notícias sobre o combate aos incêndios. Apanhei parte da reportagem que já tinha visto ontem, onde mostravam as casas consumidas pelas chamas, das quais não tinha restado praticamente nada além de um monte de cinzas... e, depois, mostraram os corrais/cortes onde se encontravam os animais quando o fogo deflagrou, os quais, conforme estava a ser relatado, tinham morrido queimados, aprisionados. Confesso que inconscientemente comecei a imaginar a situação e isso deixou-me arrepiada, até um pouco mal-disposta. Coitadinhos dos animais... que sofrimento. 

No seguimento, às páginas tantas, o repórter que estava a entrevistar um senhor, dono de uma das habitações que teriam ardido, pergunta-lhe como é que tal aconteceu... o senhor disse que quando se aperceberam ainda tentaram salvar algumas coisas, mas que não tinha sido possível porque o tecto já estaria a ruir... o meu pensamento imediato foi: então e os animais? Não deu tempo para os libertar? (sinceramente não sei, provavelmente não, porque não me parece que o senhor quisesse que os seus próprios animais morressem, mais que não fosse pelo prejuízo material acrescido que lhe causaria). 

Depois, dei por mim a divagar e a imaginar-me perante uma situação do género, ou seja: se a minha casa estivesse em perigo de arder, com tudo lá dentro, e eu tivesse oportunidade de "salvar" algumas coisas, o que seria? Haveria alguma coisa sem a qual eu não conseguiria viver? Haveria alguma coisa que eu quisesse MESMO salvar, fosse pelo seu valor material ou pelo seu valor afectivo? E vocês? Alguma vez pensaram no que gostavam de salvar? Dediquem alguns instantes a pensar nisto... eu dediquei!

Após uns minutos de reflexão apercebi-me que não havia nada em particular sem a qual eu não conseguia viver, ou sem a qual a minha vida não fosse a mesma dali para a frente. Se tentar ser um pouco objetiva e prática, talvez "amarrasse" no meu computador, onde tenho "grande parte da minha vida" (pessoal e profissional), mas mesmo isso, não seria uma perda irremediável! Contudo, com toda a certeza, não pensava duas vezes em salvar o meu Yoggi (o meu cãozinho), em detrimento do meu computador. Obviamente, que salvar vida humanas nem sequer se põe em questão!

Depois desta sucessão de pensamentos senti uma certa serenidade interior, porque tinha acabado de me aperceber que, apesar de, felizmente, possuir alguns bens materiais (que quando comprei achei que PRECISAVA MESMO... mas talvez não!), na realidade não são essenciais para mim, não estão na minha lista de prioridades, não fazem parte de mim, apenas "me servem" e servem o propósito para os quais os adquiri, sem os quais, em alguns aspectos a minha vida seria realmente um pouco menos confortável, mas só isso.

Mais tarde, dei um saltinho até ao rio e enquanto punha minha leitura em dia, como que o fechar de um ciclo, li algo que gostava de partilhar.

"O desejo do que é concreto faz parte da natureza humana: queremos ver, queremos tocar, queremos possuir. Mas é essencial reconhecermos que, quando desejamos coisas sem nenhuma razão real além do prazer momentâneo que elas nos proporcionam (e acrescento eu, que nada tem a ver com a verdadeira felicidade), no fim de contas elas podem acabar por nos trazer mais problemas do que alegrias." 


Na realidade, o autor dava mesmo o exemplo dos incêndios, em que a sensação de perda era naturalmente maior nas pessoas mais abastadas, que tinham muitos bens materiais, do que naquelas que tinham pouco e que já há muito tinham aprendido a viver assim.

domingo, 15 de julho de 2012

Mudanças

Há alturas na vida em que sentimos uma extrema necessidade de mudar! Podemos referir-nos a mudanças de alto impacto, como seja mudar de trabalho, quando aquele já não nos satisfaz e nos torna infelizes, dia-após-dia (se tivermos oportunidade de o fazer, porque com a dita crise isto não anda fácil... e a maioria de nós sujeita-se ao que tem e reza para não perder o emprego) ou mudar de cidade, na busca de condições melhores do que as atuais. Mas na maioria dos casos referimo-nos a coisas mais pequenas, como mudar de café (quando nos fartamos de ver sempre as mesmas pessoas), mudar de perfume (porque aquele nos faz lembrar pessoas/situações que não valem a pena ser relembradas), experimentar situações/actividades novas, sendo, julgo eu, o mais comum a mudança de visual (comprar roupa nova, de um estilo diferente do habitual, fazer um novo corte de cabelo, mudar a maquilhagem, etc.). Apesar de pequenas, podem ser muito poderosas estas mudanças...

Pois bem, movida por uma necessidade de mudar, este fim-de-semana decidi ir cortar e pintar o cabelo. Já não o fazia há uns tempos, e a sensação foi bastante mais libertadora do que estava à espera... ao mesmo tempo que me sentia diferente, sentia-me mais eu! Para quem não compreende, estas idas ao cabeleireiro para as mulheres podem ser mais complexas do que parecem. Passo a explicar, muitas mulheres têm um medo enorme da mudança... preferem o corte habitual, a mesma cor, preferencialmente, executados pelo mesmo cabeleireiro, que frequentam desde que se lembram porque assim nunca ficam "mal" (não tem que enganar!!!). Claro está que, como contra-partida, nunca saberão se, de facto, aquele corte/cor/cabeleireiro são os ideais para elas. Não porque não existam opções, mas porque elas não se encontram dispostas a experimentar situações novas, fora da sua zona de conforto, muitas vezes fruto de uma má experiência no passado que as leva a não querer repetir "a aventura". Para estas pessoas, por vezes, a mudança caba por chegar no dia em que se olham ao espelho e não gostam do que vêm e dizem "Que se lixe, é hoje que vou experimentar fazer X ou Y com o qual tenho sonhado há anos, mas nunca tive coragem", é o seu "Grito do Ipiranga" e, só aí, se apercebem o quão parvas foram por não o ter feito mais cedo (quando gostam do resultado claro! Senão, aí vem pranto!!).

Se pensarmos bem, todos fazemos coisas destas no nosso dia-a-dia... empurramos com a barriga montes de decisões que poderiam muito bem ser tomadas "hoje" por uma questão de conforto, geralmente, emocional, porque não nos apetece ou não temos cabeça para lidar com determinados problemas, porque não é urgente (logo, à bom português, podem muito bem esperar) ou simplesmente, porque não temos coragem de as tomar, porque tememos as suas reais repercussões, porque não estamos 100% certos de que sejam o certo/a melhor opção, porque temos medo de nos arrepender e preferimos continuar como estamos, porque "mais vale o morno do que o frio".... mas então e o quentinho? Não é melhor?

Pois bem, fechando este círculo de ideias, eu própria procuro o "quente" e tento encontrá-lo em todas as áreas da minha vida... e às vezes, pequenas mudança (como sejam mudar a cor de cabelo) fazem-nos sentir mais confiantes, optimistas e isso naturalmente refletir-se-à na nossa vida.

Esta foi a minha opção... cabelo com reflexos ruivos! Vamos ver o que esta mudança me trará (além de uma belas de umas raízes daqui a uns meses!!!!) :P




Tenham uma bela semana, de preferência, com solinho!!

PS.: Já agora, partilho convosco uma coisa que aprendi hoje... sabiam que a palavra "Arrependimento" vem do Grego μεταμέλεια - Metanóia (Meta=Mudança, Nóia=Mente) e significa Mudança de Mentalidade... não deixa de ser curioso!



sexta-feira, 13 de julho de 2012

O Silêncio


Para alguém que fala pelos cotovelos, que ganhava os títulos de “Miss blá blá blá” nos tempos da universidade, uma verdadeira "fala barato" - como é o meu caso -, falar sobre o silêncio pode parecer algo estranho e pouco apropriado, mas a verdade é que, por baixo desta "capa verborreica" existe um verdadeiro fascínio pelo silêncio.

O silêncio pode dizer muito mais do todas-as-palavras-e-mais-algumas-ditas-seja-de-que-forma-for-por-quem-quer-que-seja!! O silêncio pode ser devastador, constrangedor, angustiante, inquietante, de tristeza ou sofrimento profundos,... mas também pode transmitir paz, tranquilidade, cumplicidade e felicidade. Embora não consiga trazer à memória situações concretas de todas elas, julgo já ter experienciado cada uma destas “emoções silenciosas”, e possivelmente, aquelas que guardo na memória constituam, mesmo, os melhores e piores momentos da minha vida.




Li recentemente um post num blog em que o autor descrevia um casal de namorados, com cerca de 25 anos, que tinha observado à hora do almoço, dizendo que tinham passado toda a refeição (cerca de meia hora) sem proferir uma única palavra; cada um claramente perdido nos seus pensamentos, olhavam em redor, pela janela, para outras pessoas que passavam, enquanto iam comendo. O autor refletia sobre a felicidade do casal em questão, se estariam chateados naquele momento em particular ou se já tinham chegado à fase em que já sentiam que não tinham nada para dizer ou partilhar um com o outro, ou se simplesmente não queriam fazê-lo. Claramente, estávamos presente um silêncio desconfortável, que não aspira a nada de bom. Não ter vontade de dizer nada, de partilhar, nem que sejam as coisas banais do dia-a-dia (o que viu, o que fez, o que sentiu...) é quase sempre um sinal de desinteresse, de insatisfação, de saturação, de acomodação à situação atual (com a qual estão evidentemente insatisfeitos), refletindo uma profunda falta de vontade/confiança para lutar por mais do que o têm no momento (seja por medo do fracasso ou por crise de identidade – não sabem quem são, logo, não sabem o que querem). A minha experiência pessoal diz-me que para que qualquer tipo de relação funcione, seja ela que natureza for, tem que haver empenho e dedicação de ambas as partes e que as pessoas só o fazem quando recebem do outro lado um “feedback” positivo que os motiva e estimula a continuar a fazê-lo, até que o próprio ato de fazer algo por alguém que se sabe à partida que vai satisfazer a outra parte passa a ser o suficiente para continuar a investir naquela relação. Naturalmente, o empenho não tem que ser necessária e exatamente igual de ambas as partes... porque da mesma forma que o nosso lado esquerdo do corpo não é igual ao lado direito (sim, não somos simétricos, se fossemos seriamos muito estranhos), mas o todo é harmonioso (vá, uns mais do que outros :P)... as relações funcionam da mesma forma, quando se encontra um equilíbrio salutar, que satisfaz ambas as partes, sem cobranças e sem pressões.

Contudo, o silêncio pode surgir em contextos absolutamente opostos a este... pode ser um sinal de cumplicidade extrema em que não há necessidade de palavras, reconfortante e tranquilizador. Quando comecei a trabalhar, vivi um ano sozinha e a certa altura perguntaram-me qual era a sensação. Limitei-me a dizer que gostava muito de chegar a casa, cansada do trabalho e esticar-me calmamente no sofá, no silêncio, e deixar a minha mente vaguear por onde lhe apetecesse... e terminei dizendo “não há nada melhor” ao que a pessoa em causa me respondeu: “ melhor era fazeres tudo isso e ao teu lado estar alguém especial a fazer exactamente o mesmo, a respeitar o teu silêncio e a gozar o seu, tranquilamente”. Concordei em absoluto. Perdi isto quando voltei a viver em casa dos meus pais... enfim! Na realidade, julgo que gozar momentos de silêncio, estando acompanhado, e conseguir usufruir dos mesmos traduz uma grande cumplicidade, amizade, respeito... é preciso ter uma relação muito genuína e aberta, em que ambas as partes se respeitam e, sem qualquer pressão, deixam as coisas fluir naturalmente. Parece simples.... mas conseguir que tal aconteça sem desconforto e sem receios é incrivelmente difícil, mas quando se consegue... é maravilhoso. No entanto, acredito que haja personalidades que não se coadunam a este tipo de experiências e para quem o silêncio é sempre sinal de falta de algo, sinónimo de solidão, tristeza, embaraço... talvez porque não o saibam gerir da melhor forma e como tal, sempre que surge, tenham necessidade de o “abafar” com palavras ou comportamentos absolutamente desnecessários...

Termino com uma citação do filme Pulp Fiction que me parece apropriada... That's when you know you've found somebody special. When you can just shut the fuck up for a minute and comfortably enjoy the silence.” (Mia)

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Saúde para todos... ao menor preço!!!


Resolvi escrever este post sobretudo porque, nos últimos dias, muitos dos meus amigos e familiares me têm questionado sobre os motivos da anunciada greve dos médicos, a decorrer, nos próximos dias 11 e 12 de Julho e julgo que este assunto merece uma clarificação, ainda que breve. Vou tentar esclarecer e realçar alguns dos pontos fulcrais desta greve, que têm sido um pouco obscurecidos pelos meios de comunicação social e pelas próprias entidades competentes, na pessoa do próprio Ministro da Saúde e seus assessores, que têm feito um grande esforço para caricaturar a classe médica como uma classe de privilegiados, prevaricadores e presunçosos (claro que há espécimes desses... como em todas as profissões!).




Pois bem, já há meses que as organizações sindicais médicas andavam em negociações com o Governo em torno dos novos regimes de trabalhos e respetivas grelhas salariais. Ao longo dos últimos 5 meses, não foram tomadas quaisquer medidas face às propostas apresentadas pelos sindicatos, sendo o adiamento a solução encontrada pela delegação governamental. Simultaneamente (daí a falta de transparência de que o Governo é alvo), foi elaborada uma proposta, pronta para aprovação, que veio chocar toda a comunidade médica. Esta proposta consistia na abertura de um concurso público para “colocar em leilão” a contratação de cerca de 2,5 milhões de horas de trabalho médico (equivalente ao horário completo de 1700 médicos) para as instituições do Serviço Nacional de Saúde (SNS), via empresas privadas prestadoras de serviços, sendo o critério de adjudicação adoptado “o preço mais baixo/hora”.

Vejamos quem sai prejudicado com estas medidas e o que é que está em jogo:

-    O MÉDICO que deixa de ser contratado pelas suas qualificações, experiência, prática clínica, componente humana, entre outras características fundamentais a um bom profissional de saúde, mas sim pelo preço mínimo que a empresa que o contrata paga pelos seus serviços e, naturalmente, pela rapidez com que “despacha os doentes” (desculpem a expressão, mas é uma realidade). Segundo esta proposta, os médicos serão obrigados a consultar, no mínimo, 4 utentes por hora (que bem feitas as contas entre o médico chamar o doente, ele entrar, tirar o casaco, sentar, voltar a levantar, vestir o casaco e sair pela porta... vejam quanto tempo sobra realmente para observar o doente... já para não falar no processo de informatização que é atualmente exigido, em que se regista tudo e mais alguma coisa, mas cuja lentidão dos equipamentos (computadores velhos, servidores lentos, software pouco intuitivo...) ainda dão uma ajuda a diminuir o tempo efectivo de consulta!! Assim, não há espaço para “Medicina de Qualidade”. Ainda, outro aspecto que esta proposta inclui é o facto das empresas privadas poderem mudar sucessivamente os profissionais que colocam numa dada instituição, desde que comuniquem com a antecedência de 30 dias, não se exigindo a existência de um quadro próprio de pessoal médico. Ao longo da minha formação em Medicina pré e pós-graduada foi-me incutido que o sucesso dos cuidados de saúde se baseavam numa abordagem multi e interdisciplinar de trabalho em equipa. Nesta proposta, o conceito de trabalho em equipa é completamente desvirtualizado e considerado secundário, uma vez que os profissionais são contratados individualmente, para colmatar falhas onde possam existir, inclusivamente, independentemente do seu grau de diferenciação, pois o critodutividade (4doentes/hora) e o s/hora) e o atendimento pedi equipa .)i imprimir a receita ou fazer ério é apenas a produtividade (ver 4 doentes/hora), não sendo feita referência às habilitações do médico contratado. Assim, e citando o antigo Ministro da Saúde, Paulo Mendo, a contratação de médicos através de trabalho temporário é equivalente a “transformar o SNS numa Bandalheira!”. A tudo isto se adiciona o facto de em vez de contratar pessoal para os quadros (como acontecia até então), opta-se por colocar os médicos a recibos verdes. Esta instabilidade, aliada a pagamentos que podem ir até valores “ridículos”, à semelhança do que acontece já com os enfermeiros (profissionais qualificados a receber 3,96€/hora) e com a necessidade constante de actualização de conhecimento médico, essencial para uma prática médica consciente e de qualidade (como todos nós pretendemos), é impossível não levantar a questão: haverá tempo, dinheiro e disposição para essa formação? Que médicos vamos ter/ser (no meu caso)? Naturalmente medíocres! É isso que se pretende?? E quem será o mais afetado… mais uma vez todos nós, enquanto utentes!

-       O UTENTE, conforme já referido, se a contratualização do médico não se baseia em critérios de qualidade, o utente passa a ser consultado por profissionais pouco qualificados e, como todos sabemos, quando toca à Saúde todos nós queremos sempre os melhores... desenganemo-nos todos porque isso deixará de acontecer! Ainda, o facto dos profissionais poderem ser substituídos de acordo com a conveniência da empresa responsável pela sua contratualização, os utentes podem ver o médico mudar todos os meses/anos. Ora, deixa de existir acompanhamento longitudinal do doente ao longo do tempo. Isto é particularmente importante e GRAVE, no âmbito dos Cuidados de Saúde Primários. Eu, como sabem, estou a tirar a especialidade de Medicina Geral e Familiar, e, como tal, um dos motivos que me levou a escolher esta especialidade foi a possibilidade de seguimento dos doentes de várias gerações, ao longo das várias etapas da sua vida... e agora? O que acontecerá ao médico de família? Aquele em quem se confia, aquele que está sempre acessível, aquele que conhece a realidade sócio-económico-cultural e existencial das famílias que acompanha, que aborda todo o tipo de problemas, com base no conhecimento e confiança que obtém dos contactos repetidos com “os seus doentes”. Isso é deveras preocupante.... Deste modo, um pouco por todas as áreas, os serviços como os conhecemos hoje vão, a seu tempo, desaparecer. A falta de formação contínua, aliada ao critério “do mais baixo preço” vai tornar o SNS num serviço de assistência medíocre, onde trabalham, não os melhores, mas os que fazem mais barato / se sujeitam (sim, porque a necessidade também vai obrigar muitos profissionais a sujeitar-se às condições miseráveis oferecidas). Mais uma vez, quem sai prejudicado é o cidadão, és tu e sou eu… somos “nós”, os 10 milhões de Portugueses (tirando uma minoria, nos quais o Sr. Ministro se deve incluir, que têm possibilidade de recorrer ao privado e, aí sim, irão escolher as grande referências da área que procuram!!! Mas para ti, povo, chega bem o Dr. António, que nem sequer tirou a especialidade porque não abriu vaga para ele no ano em que concorreu... sim, porque as vagas para as especialidades médicas começam a ser inferiores ao número de candidatos.. mas isso é outro assunto!)

TODOS NÓS seremos prejudicados! 
(Sendo os médicos duplamente prejudicados, enquanto profissionais de saúde e enquanto cidadãos!)

Sempre ouvi dizer que a “Saúde é o bem mais preciso que podemos ter”, “sem Saúde, nada vale”. Pois bem, concordando com estas máximas e considerando que ainda é possível “salvar o SNS e os seus princípios, garantindo a qualidade dos serviços prestados”, é que nos próximos 2 dias uma massa considerável de médicos irá aderir à Greve (abdicando, inclusivamente, de dois dias de ordenado), com o objetivo último de salvaguardar o bem sem o qual nada subsiste... a Saúde!

Pelo que vejo... às tantas ainda chegaremos a isto:




PS: Este post teve por base vários documentos emitidos nos últimos dias pelas entidades sindicais do médicos (SIM – Sindicato Independente dos Médicos e FNAM – Federação Nacional dos Médicos), pela Ordem dos Médicos, em artigos de jornais diários, bem como um texto muito interessante do meu colega Daniel Miranda, muito claro e conciso acerca desta problemática.

ATENÇÃO: além destes motivos, existem muitos outros, igualmente importantes, que envolvem a carreia médica, a definição do acto médico, etc. que os médicos querem ver salvaguardados e que somam motivos à greve pré-anunciada, mas que saem do interesse do público em geral e, portanto, deste post.


segunda-feira, 2 de julho de 2012

Bijoux... teria!

Olá a todos!!

Hoje vou mostrar um novo projeto pessoal a que já me venho a dedicar há uns tempos e que, nos dias que correm, vejo cada vez mais difundido pelas redes sociais. Pois bem, eu sempre gostei de tudo o que envolve trabalhos manuais e quando à parte técnica se alia a criatividade, então o processo agrada-me e o resultado entusiasma-me e faz-me continuar. Então, o que ando eu a fazer nos meus tempos livres? Ando a criar um dos meus acessórios preferidos... isto é pulseiras! Basicamente, tudo começou porque sou seguidora de um blog (muito conhecido, mas ao qual não vou fazer publicidade) que mostrou umas pulseiras muito giras e que me ficaram debaixo do olho. O meu pensamento instantâneo ao vê-las não foi provavelmente o mais comum (que seria: quero!! quero!!! onde posso comprar e quanto custam??!!), mas antes: "Parece exequível, será que consigo fazer uma do género, mas personalizada ao meu gosto?". Pronto, estava lançado o desafio... e até fazer a bendita pulseira não descansei. Vi uns tutoriais na net, comprei os materiais e experimentei... pois bem, gostei tanto, que a partir daí não parei. Na realidade o que me levou a continuar foi a ânsia que eu tinha de aprender cada vez mais técnicas, utilizando vários materiais e sobretudo, depois de alguma prática, conseguir dar asas à minha imaginação e estar sempre a criar coisas diferentes e únicas. A grande vantagem é que agora o meu role de opções quando me estou a arranjar para sair ser significativamente mais vasto!!!!! hehehehe 

Pronto, mas eu não me deixei ficar por aqui e então, autodesafiei-me com o projeto que mostro de seguida no blog. Ora bem, fazer pulseiras já eu sabia que era capaz... agora o desafio era criar pulseiras alusivas a determinados motes/temas. Então lembrei-me do seguinte: pedi a alguns amigos que me dissessem, sem saber o propósito de tais informações, dois coisas - o nome da sua música preferida do momento e uma cor que gostassem. A partir destas informações, conjugado com o que cada um deles significa para mim, fui à net e selecionei uma imagem que traduzisse o que a música me transmitia e que me inspirasse. A partir daí criei um conjunto de pulseiras para cada um. 

Ora vejam o resultado:

Conjunto 1: 

Música: Radiohead – Pyramid song (http://www.youtube.com/watch?v=s2VzLn6DMCE)
Cor: Roxo
Foto inspiradora: Rio negro ao Luar (de Deusa Costa)


Criação:















Conjunto 2:

Música: Os Azeitonas - Anda comigo ver os aviões (http://www.youtube.com/watch?v=L8aYZGpTabQ)
Cor: Rosa
Imagem inspiradora: anónimo


Criação:














Conjunto 3:

Música: Flo-Rida ft. Sia – Wild Ones (http://www.youtube.com/watch?v=bpOR_HuHRNs)
Cor: Amarelo
Foto inspiradora: Neon Palm Tree Dubai (de David Henderson)
NB.: O videoclip desta música é rodado no Dubai (daí a grande inspiração!!!!)


Criação:


 













Conjunto 4:

Música: Devendra Banhart - I remember

(NB.: Esta música foi escolhida com a referência de protagonizar um vídeo de casamento... e esse vídeo influenciou decisivamente a criação que se segue, talvez mais do que a própria foto, que também teve o seu peso - link do vídeo:

http://cargocollective.com/chagelado/Cris-Guerra-e-Edmundo-Bravo-O-Casamento - 2ª mús)
Cor: Coral
Foto inspiradora: anónimo 


Criação:


















Peço desculpa se a qualidade das fotos não for a melhor, mas realmente não foi muito fácil fotografar e conservar as cores originais porque a luminosidade não era a melhor. Mas a ideia acho que está bastante perceptível. 
Espero que tenham gostado. Eu adorei. Confesso que o processo criativo foi um pouco cansativo porque eram muitos os pormenores a ter em conta ao mesmo tempo, mas foi muito reconfortante e, até um pouco nostálgico, porque as próprias criações reflectem muito a relação de amizade que mantenho com as pessoas que serviram de fonte inspiradora.

Bem, espero ter-vos inspirado... 

Deixem comentários (se quiserem e de preferência aqui no blog e não no facebook... é mais fácil para mim), digam quais são os vossos conjuntos preferidos, aceito sugestões para outros projetos sobretudo se forem desafiantes!!! :P


Fiquem bem! 
Boa semana para todos