domingo, 2 de setembro de 2012

Memoirs

Hoje, provavelmente atendendo ao facto de ter ido a uma despedida de solteira de uma amiga, dei por mim a recordar momentos passados. É engraçado como o tempo passa sem que nos apercebamos.... é impressionante a quantidade de coisas que mudaram nos últimos anos, mas sobretudo, é interessante apreciar a nossa própria mudança.

Gosto das recordações, não porque me prendam ao passado, nem tão pouco considero que elas me impeçam de viver o presente, mas porque me recordam do que já vivi e me enchem de esperança, optimismo e alguma excitação em relação ao que ainda está para vir, que viverei e depois, com todo o prazer, recordarei. Não concordo com as pessoas que estão sempre contra o revivalismo e saudosismo, que dizem que recordar é "coisa de velhos" (perdoem-me a grosseria da expressão, mas é assim que o dizem habitualmente), que é sinal de infelicidade. 

Gosto de recordar... em parte, também, porque com o tempo me fui apercebendo que tenho uma óptima memória para acontecimentos de vida, que me recordo com facilidade de coisas que a generalidade das pessoas não se lembram (excepto quando alguém as menciona). Gosto de recordar... gosto de saborear os momentos, as palavras, os gestos, de os reviver na minha mente, de sentir o que senti, de esboçar um sorrir com essas recordações, de soltar uma lágrima, de me emocionar. 
As recordações pertencem-nos... não são exclusivamente nossas, mas de todos os que viveram aqueles momentos connosco, contudo, a forma como vivenciamos os acontecimentos é única, e, como tal, as recordações desses mesmos momentos são também únicas. Assim, por mais que comentemos e partilhemos os momentos, as recordações são só nossas, são a forma como marcamos na nossa "alma" aquilo que aconteceu/fizemos acontecer, são as pinceladas com que vamos pintando sobre a nossa tela em branco e que, no final, originarão uma composição única, pessoal, inimitável... que nos representa, a nós, à nossa história, aquilo que fomos, que somos, resultado do que vivemos (naquele determinado tempo, lugar e com aquelas pessoas). Recordar é o acto de contemplar essa mesma tela, sempre inacabada, mas cada vez mais completa, averiguando o que mais lhe podemos fazer para a tornar cada vez mais bela e coesa, como um todo, dando-lhe significado. No fundo é validar a nossa própria existência.

Não penso que as coisas aconteçam por acaso, por isso acredito que as pessoas ditas "anti-acto-de-recordar", o façam por algum motivo, muitas vezes reflectindo a forma negativa como percepcionam a sua existência. 
Talvez não tenham experienciado muitos momentos de amor, felicidade, amizade, lealdade, paz, solidariedade, e, como tal, sentem-se vazios, incompletos e infelizes porque simplesmente julgam não ter nada que valha a pena recordar. Apesar de possível, porque há vida de facto muito duras, o que me parece que acontece mais actualmente é que muitas destas pessoas já experienciaram momentos ditos bons, que valem a pena ser recordados, no entanto não lhes deram o devido valor, menosprezaram a sua importância, ou então, têm expectativas desajustadas em relação à sua vida e ao que esperar dela, de forma a que se sentem sempre defraudadas consigo mesmas e com os outros, sentindo-se, constantemente insatisfeitas, não desfrutando desses mesmos momentos. É importante ter expectativas e desejar sempre um pouco mais (a dita ambição saudável), mas mais importante ainda é apercebermo-nos que expectativas desajustadas nos impedem de viver... já diz o ditado "o óptimo é inimigo do bom" e eu concordo. Começa a ser cada vez mais importante valorizar o que temos e não nos focarmos naquilo que não temos. Gosto muito de uma frase que tento ter sempre presente na minha memória: "It's not who you are that holds you back, it's who you think you're not!"

Por outro lado, fazendo um pouco de advogado do diabo, concordo que não devamos, com a mesma naturalidade e frequência, recordar momentos críticos, pesarosos e desestruturantes... por um motivo simples: porque esses momentos são fundamentais na nossa vida, aprendemos e crescemos imenso com eles, dão-nos uma bagagem adicional, tornam-nos certamente mais fortes e aptos para viver... mas essa aprendizagem é incorporada naturalmente em nós quando finalmente os conseguimos ultrapassar, são fenómenos que nos modificam intrinsecamente, mas cuja recordação em nada acrescenta a esse crescimento individual, apenas pode trazer mágoa, sofrimento e alguma vitimização (sobretudo nas pessoas com personalidade mais susceptível a isso). Agora também depende da perspectiva com que essas lembranças são recordadas, porque se nos centrarmos no quão melhor estamos agora, no quanto crescemos, no quanto evoluímos, no quanto alcançamos, no quanto vivemos desde então, isso sim, pode ser bastante positivo. 

"A recordação é activa. Não é um objecto perdido que se encontrou. Ela faz crescer a massa do presente e do futuro." 
(Jacques Bossuet)

2 comentários:

  1. Na minha opinião...

    O passado, em termos do que nos tornou, do que somos pelas experiências passadas, é basicamente presente.

    O passado, como passado, não interessa para nada. Se nos mudou, é o que somos agora que interessa, se aprendemos as lições que aprendemos (que aconteceram no passado é certo, mas só serão úteis agora) só as interessa sabe-las agora, e é o que fazemos agora com o que somos que interessa.

    Memórias... ahhh.. isso é outra coisa. Como um sonho que gostamos de revisitar, por uns instantes, mas não mais do que isso.

    Não deveremos passear demasiado por uma memória, pois corremos o risco de ficar preso numa acção passada, que já aconteceu. Má ou boa. A mente faz isso...

    Só temos a percepção de 3 dimensões. Estar a viver demais no passado, é talvez estar a sair da realidade que conseguimos percepcionar, e viver aparte, preso num sítio indefinido, num sonho incontínuo, numa rua sem saída.

    Só podemos saber quem somos, olhando para o passado. Mas só pudemos mudar quem somos no presente, pois será o passado do amanhã. :)

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